sábado, 31 de julho de 2010

Como funciona a combustão espontânea em seres humanos por Stephanie Watson


Em dezembro de 1966, o corpo do Dr. J. Irving Bentley, de 92 anos, foi descoberto na Pensilvânia, ao lado do medidor de consumo de eletricidade de sua casa. Na realidade, apenas parte da perna dele e um pé, ainda com o chinelo, foram achados. O restante do seu corpo tinha se transformado em cinzas. A única evidência do fogo que causara sua morte, era um buraco que havia no piso do banheiro: o resto da casa estava intacto e não sofrera nada.

Como se explica que um homem pegou fogo - sem nenhuma origem aparente de faísca ou chama - queimando completamente o próprio corpo, sem espalhar as chamas para nenhum objeto próximo? O caso do Dr. Bentley, e centenas de outros casos semelhantes, ficaram conhecidos como eventos de "combustão humana espontânea" (Spontaneous Human Combustion - SHC). Embora ele e outras vítimas do fenômeno tenham sofrido combustão quase total, as redondezas de onde se encontravam, ou as próprias roupas, muitas vezes não sofriam dano algum.

Os seres humanos podem ser consumidos espontaneamente pelo fogo? Muitas pessoas acreditam que a combustão humana espontânea seja um fato real, mas a maioria dos cientistas não estão convencidos.

Nesse artigo, conheceremos o estranho fenômeno de combustão espontânea, o que se diz sobre ela e tentaremos separar a verdade científica do mito.

O que é a combustão humana espontânea?
  A combustão espontânea ocorre quando uma pessoa rompe em chamas por causa de uma reação química interna aparentemente não provocada por uma fonte externa de calor.

A primeira combustão humana espontânea conhecida foi divulgada pelo anatomista dinamarquês Thomas Bartholin, em 1663, quando descreveu como uma mulher em Paris "foi reduzida a cinzas e fumaça" enquanto dormia. O colchão de palha onde ela estava deitada não foi danificado pelo fogo. Em 1673, um francês chamado Jonas Dupont, publicou uma coleção de casos de combustão espontânea na sua obra "De Incendiis Corporis Humani Spontaneis".
As centenas de casos de combustão espontânea ocorridas desde aquela época tiveram uma característica comum: a vítima sempre era consumida quase completamente pelas chamas, usualmente dentro da própria residência, e os médicos legistas presentes relatavam ter sentido cheiro de uma fumaça adocicada nos cômodos onde os eventos tinham ocorrido.

A peculiaridade que os corpos carbonizados apresentavam era o fato das extremidades terem permanecido intactas. Ainda que o dorso e cabeça tivessem sido carbonizados de forma irreconhecível, as mãos, pés e/ou parte das pernas não tinham se queimado. Além disso, o cômodo onde o corpo fora encontrado mostrava pouco ou nenhum sinal de fogo, salvo por um pequeno resíduo que tivesse ficado na mobília ou nas paredes. Em raros casos, os órgãos internos da vítima permaneciam intactos, enquanto a parte externa era carbonizada.

Nem todas as vítimas de combustão humana espontânea eram simplesmente consumidas pelas chamas. Algumas desenvolviam estranhas queimaduras no corpo, embora não houvesse nenhuma razão para isso, ou emanavam fumaça sem que existisse fogo por perto. Nem todos os queimados sucumbiam: uma pequena porcentagem de pessoas que tinham passado pela combustão espontânea sobrevivia.

As teorias
Para entrar em combustão, o corpo humano precisa de duas coisas: alta intensidade de calor e uma substância inflamável. Sob circunstâncias normais o corpo humano não possui nenhuma dessas características citadas, mas alguns cientistas têm especulado sobre a possibilidade desses acontecimentos ao longo dos séculos. 
No século XIX, Charles Dickens despertou grande interesse na combustão humana espontânea, usando-a para matar um personagem de sua novela "A casa abandonada ("Bleak House"). Krook, o personagem alcoólatra, compartilhava da crença comum nessa época de que a combustão humana espontânea era causada por quantidades excessivas de álcool no corpo.


Hoje existem diversas teorias. Uma das mais populares sugere que o fogo é iniciado quando o metano (gás inflamável resultante da decomposição de vegetais) acumulado nos intestinos entra em ignição estimulado por enzimas (proteínas no corpo que atuam como catalisadores para induzir e acelerar as reações químicas). Entretanto, muitas vítimas da combustão humana espontânea, sofrem mais danos na parte externa do que dentro de seus corpos, aparentemente contrariando essa teoria.

Outras teorias especulam que a origem do fogo poderia ser resultado de um acúmulo de eletricidade estática dentro do corpo, ou que proviria de uma força geomagnética externa exercida sobre o corpo. Um perito em combustão humana espontânea, Larry Arnold, sugere que o fenômeno resulta de uma nova partícula subatômica chamada 'pyroton' que, segundo ele, interage com as células para criar uma micro-explosão. Mas não existe nenhuma evidência científica provando a existência de tal partícula.

Até março de 2005, ninguém ainda havia provado cientificamente uma teoria que pudesse explicar a combustão humana espontânea. Qual a explicação para as histórias e fotos de pessoas que aparentemente se queimavam com um fogo vindo do interior do corpo, se os seres humanos não podem entrar em combustão espontânea?

Se a combustão humana não é real, o que de fato ocorreu com os corpos carbonizados de tantas fotos? Uma das possíveis explicações é o efeito pavio, que afirma que um corpo em contínuo contato com uma brasa, um cigarro aceso ou outra fonte de calor intenso, atua de forma semelhante a uma vela.

A vela é composta de um pavio envolto por uma cera de ácidos inflamáveis. A cera acende a vela e conserva a sua chama. No corpo humano, a gordura atua como substância inflamável e as roupas da vítima ou seus cabelos como pavio. A gordura, derretida pelo calor, ensopa as roupas e atua como cera, mantendo a queima lenta do pavio. Os cientistas dizem que é por isso que os corpos das vítimas são destruídos sem que a chame se espalhe para os objetos ao redor.

Como se explicam as fotos dos corpos queimados, mas com as mãos e os pés intactos? A resposta a esta pergunta pode ter alguma coisa a ver com o grau de temperatura - a idéia de que a parte superior de uma pessoa sentada é mais quente do que a sua parte inferior. Basicamente, o mesmo fenômeno ocorre quando seguramos um fósforo com a chama na parte inferior. A chama muitas vezes apagará por si mesma, porque a parte debaixo do fósforo é mais fria do que a parte de cima.

Finalmente, como a ciência explica as manchas oleosas deixadas nas paredes e tetos depois dos casos de combustão espontânea? Podem simplesmente ser resíduos da queima dos tecidos gordurosos das vítimas.

Ninguém ainda desmentiu ou provou conclusivamente a combustão humana espontânea, mas a maioria dos cientistas afirma existirem explicações mais plausíveis para os restos mortais carbonizados. Muitas das chamadas vítimas da combustão espontânea eram fumantes e morreram, como se descobriu posteriormente, por terem dormido com o cigarro, charuto ou cachimbo acesos. Acredita-se que muitos vitimados estavam sob influência do álcool ou haviam sofrido de enfermidade restritiva de movimentos, que os impedia de fugir rapidamente do fogo. Outra possibilidade é a de que, em alguns casos, os corpos queimados e o estranho estado das vítimas se expliquem como resultantes de atos criminosos e as posteriores tentativas de se apagar os rastros do crime.

A validação da combustão humana espontânea é vista com ceticismo pela comunidade científica. Mas já foi provado cientificamente que alguns objetos romperam em chamas sem que houvesse uma fonte externa de calor. Por exemplo, uma pilha de trapos oleosos guardados juntos a um recipiente aberto, como um balde. O oxigênio do ar incidindo sobre os trapos pode gradualmente elevar sua temperatura interna até um ponto tal que o óleo inflamável entre em ignição. Sabe-se também que uma certa quantia de feno ou palha também entram em combustão espontânea. Durante a decomposição, bactérias no interior desses volumes são responsáveis pelo processo de degradação, sendo capazes de gerar calor suficiente para provocar uma fagulha. 

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